de uso diário: A dor da gente não sai no jornal...

de uso diário

Eu descreveria se pudesse.

domingo, agosto 20

A dor da gente não sai no jornal...

Eu não tenho altura pra tanto, tenho apenas 160 centímetros. Eu não sei se deveria chegar tão longe, porque nem sei onde eu posso chegar.

Eu quero ouvir música, uma que eu não tenha ouvido há muito tempo, uma que fale de dor, e de final feliz, pra cantar bem alto, até onde a minha voz medíocre de mezzo soprano chegar, e bastar, e me fizer parar de pensar. Quero só cantar. Cantar pra te esquecer e pra te lembrar. Pra me esquecer e pra me lembrar. Pra lembrar, de outras vidas, de outras ruas, de outros muros. Eu tenho mais de 20 anos e mais de 20 muros.

Roupas e máscaras. Tenho duas mochilas, uma azul e uma amarela. Verde. Ambas são grandes o suficiente pra carregar tudo, e o mais importante a carrega, tudo o que eu preciso está a levar as outras coisas de que não preciso tanto. Eu não crio raízes. Quando tento, não me deixam, e eu vou embora de novo, sem nada, e com tudo. Eu não dou tudo o que tenho, senão não me sobra nada.

Sim e não. Assim, ao mesmo tempo. E do que se quer ouvir, nada. Mais do mesmo. Menos de tudo. Sofrimento não é amargura e tristeza não é pecado.

A vida é compulsória, deletéria e ela não devolve o troco.